Configurações Iniciais

Penso que o sonho de toda mãe é que seu filho nasça com um painel de controles e uma ferramenta de configurações iniciais. Poderíamos definir sua personalidade, caráter, aspectos psicológicos, morais e físicos, preferências e capacidade intelectual. Não nos preocuparíamos com o futuro incerto, com a rejeição e com o fracasso que nossos pequenos poderiam sofrer. Seria o fim do conflito da busca de um equilíbrio na educação, algo que fique entre proteção exagerada e negligência destrutiva. Isso me lembra um filme de ficção cientifica que assisti outra vez. A mãe humana adota uma criança andróide, capaz de sentir emoções. As configurações iniciais da “criança” eram definidas por meio de palavras-chaves ditas pela mãe. Bizarro, não é? Mas seria a solução para a humanidade. O mundo estaria repleto de mentes brilhantes, super- atletas, grandes líderes. Seria o fim dos conflitos políticos e econômicos, pois é claro que toda boa mãe que foi configurada com grandes adjetivos por sua também boa mãe, definiria aspectos que sempre levariam seu filho ao sucesso. Seriam pessoas incapazes de cometer injustiças, homens e mulheres que sempre encontrariam equilíbrio em tudo que realizassem, com grandes habilidades sociais e impecáveis no aspecto moral.

Seria um mundo em harmonia, perfeito como no Jardim do Éden. Habitado, dessa vez, por quase sete bilhões de “Adões”, “Evas” e “Abeis”, sem “Cains”.
Por falar em Adão e Eva, penso que com tal possibilidade, seria também o fim do livre arbítrio. Da nossa capacidade de decidir nossos próprios caminhos. O fim da beleza que existe nas diferenças com as quais já nascemos, ou adquirimos com o decorrer da vida. Assim, também seria o fim da habilidade que o homem tem em lidar com essas diferenças e amar cada uma delas. Nossos filhos seriam todos iguais. E seriam iguais a nós mesmos, que aliás seríamos iguais aos nossos maridos e aos nossos pais, ao vizinho, ao padeiro (se houvesse algum padeiro nesse mundo). Pensando bem, tudo seria muito sem graça.

Não viveríamos as surpresas das descobertas e das formações de nossos filhos. Não passaríamos pela sensação de descobrirmos que nossos filhos tomaram suas próprias e acertadas decisões, que eles optaram pelas artes e não pelas ciências. E quão bons artistas eles são.